Faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, o ex-Presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, uma das figuras mais emblemáticas da política latino-americana nas últimas décadas. A morte foi confirmada pelo atual Presidente do país, Yamandú Orsi. Mujica lutava contra um câncer no esôfago em estágio avançado, diagnosticado em abril de 2024, e estava sob cuidados paliativos desde o agravamento da doença.
Mujica governou o Uruguai entre 2010 e 2015 e ficou conhecido internacionalmente por seu estilo de vida austero, pelas posições progressistas e pela trajetória de luta política, marcada por resistência à ditadura militar que governou o país entre 1973 e 1985.
Nascido em Montevidéu, em 1935, Mujica participou ativamente da guerrilha urbana nos anos 1960 como integrante do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros. Foi preso, torturado e passou 14 anos encarcerado sob duras condições, incluindo longos períodos em solitária. Foi libertado após a anistia de 1985 e iniciou carreira política institucional, fundando o Movimento de Participação Popular (MPP), que integraria a coalizão de esquerda Frente Ampla.
Ao longo de sua trajetória, ocupou os cargos de Deputado, Senador e Ministro da Agricultura. Em 2010, foi eleito Presidente da República, sucedendo a Tabaré Vázquez. Durante seu mandato, ampliou os gastos sociais, promoveu políticas de redistribuição de renda e defendeu avanços em direitos civis, como a legalização do uso e comercialização da maconha, além do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mujica tornou-se símbolo da esquerda sul-americana e ganhou notoriedade mundial por seu estilo de vida simples. Recusou-se a viver na residência oficial da Presidência e continuou morando em um sítio modesto nos arredores da capital, Montevidéu, de onde se deslocava dirigindo seu Fusca azul de 1987. Estima-se que doava a maior parte de seu salário como presidente para projetos sociais.
Após deixar a presidência, retornou ao Senado, onde permaneceu até 2020, quando renunciou ao cargo por razões de saúde. Nos últimos anos, dedicou-se à vida no campo e ao cultivo de hortaliças ao lado da esposa, Lucía Topolansky, ex-Senadora e ex-Vice-Presidente do país.
Com sua morte, o Uruguai se despede de um líder que deixou marca profunda na política e na sociedade, reconhecido por sua coerência, integridade e compromisso com os setores mais vulneráveis da população.