Pontífice expressou em testamento o desejo de um sepulcro simples e ofereceu seu sofrimento final pela paz mundial e fraternidade entre os povos
O Papa Francisco faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de insuficiência cardíaca irreversível. O boletim médico divulgado pelo Vaticano destaca que o agravamento do quadro clínico do pontífice foi consequência de uma série de complicações acumuladas ao longo dos últimos meses. A morte foi confirmada às 7h35 no horário de Roma (2h35 em Brasília), por meio de um exame de eletrocardiograma.
Segundo o laudo médico assinado pelo diretor do Departamento de Saúde e Higiene da Cidade do Vaticano, Andrea Arcangeli, o AVC cerebral provocou coma e colapso cardiorrespiratório. A situação foi agravada por pneumonia bilateral, bronquiectasias múltiplas, hipertensão arterial e diabetes tipo 2, doenças que vinham sendo acompanhadas de perto pelos médicos do Vaticano desde fevereiro.
O estado de saúde de Francisco já era considerado frágil desde sua internação no início deste ano, quando permaneceu 38 dias hospitalizado para tratar uma pneumonia nos dois pulmões. Durante esse período, foi submetido a ventilação mecânica não invasiva e a procedimentos como broncoscopias e aspiração de secreções. A recuperação foi lenta, e mesmo após receber alta médica, ele seguiu sob cuidados intensivos em sua residência.
O histórico médico do pontífice mostrava sinais de fragilidade desde antes do início de seu papado. Nos anos 1950, ainda na juventude, ele perdeu parte de um pulmão devido a uma infecção respiratória. Ao longo da vida, enfrentou uma série de problemas, como estreitamento do intestino grosso, osteoartrite nos joelhos — que o levou ao uso de cadeira de rodas —, diverticulite, além de diversas infecções respiratórias graves.
Entre fevereiro e abril de 2025, a saúde do papa apresentou oscilações. Ele chegou a ser diagnosticado com infecção polimicrobiana, teve episódios de insuficiência respiratória aguda, broncoespasmos e crises asmáticas. Em vários momentos, a equipe médica considerou o quadro clínico crítico. Em março, após semanas de ventilação mecânica e oxigenação de alto fluxo, os médicos conseguiram estabilizar o paciente, que voltou a aparecer em eventos públicos, ainda com dificuldades para falar e caminhar.
A morte cerebral e o colapso cardíaco foram considerados um desfecho do agravamento progressivo do estado respiratório e da falência de múltiplos sistemas, reflexo de uma condição clínica que vinha se deteriorando há meses.
Último desejo: sepultura simples e oração por fraternidade
O Papa Francisco expressou seu desejo de ser sepultado de forma simples na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, onde costumava orar antes e depois de viagens, além de após suas internações. A informação consta em seu testamento, divulgado oficialmente pelo Vaticano. Francisco tinha profunda devoção à Mãe de Jesus e dizia confiar a ela todas as etapas de sua missão apostólica.
A Basílica, dedicada a Maria, abriga os restos mortais de outros sete papas: Clemente VIII, Clemente IX, Paulo V, Sixto V, Pio V, Nicolau IV e Honório III. A última visita de Francisco ao local foi em 23 de março, após sua internação no Policlínico Gemelli, em Roma.
No documento, o pontífice também compartilha sua visão espiritual sobre o sofrimento enfrentado nos últimos meses, dizendo ter ofertado essa dor “pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos”. Leia a íntegra do testamento abaixo.
Em Nome da Santíssima Trindade. Amém.
Sentindo que se aproxima o entardecer da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar minha vontade testamentária apenas quanto ao local da minha sepultura.
Confiei sempre minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que meus restos mortais repousem, à espera do dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior.
Desejo que minha última viagem terrena se conclua justamente neste antiquíssimo santuário Mariano, onde costumava rezar no início e no fim de cada Viagem Apostólica, confiando com fé minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecendo-Lhe pelo cuidado dócil e materno.
Peço que minha tumba seja preparada no lóculo da nave lateral, entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza da referida Basílica Papal, como indicado no anexo em anexo.
O sepulcro deve estar na terra; simples, sem ornamentos especiais, e com a única inscrição: Franciscus.
As despesas para a preparação da minha sepultura serão cobertas com a quantia de um benfeitor que designei, a ser transferida para a Basílica Papal de Santa Maria Maggiore conforme instruções que providenciei entregar a Mons. Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Capítulo Liberiano.
Que o Senhor conceda a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e continuarão a rezar por mim.
O sofrimento que esteve presente na parte final da minha vida, ofereci ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.